segunda-feira, 21 de abril de 2008

Passagem pelo Cospe Grosso

Esta crônica ia se chamar “O urinol da Maria Amália” mas, ao passar pelo Cospe Grosso, a coisa toda mudou de figura. Ao final, vocês decidem sobre a minha escolha.

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Comecemos:

“Matou a cunhada com a tampa da privada enquanto esta urinava. A vítima tentou se defender utilizando um urinol de louça, tendo sido infrutífera a sua tentativa de sobrevivência.”

Não! Isso não é nenhuma manchete de jornal! É uma criação minha e o seu parto se deu em 1970. Você sabe como são os nossos momentos de criação: inesperados, diferentes, inusitados, pessoais, acontecendo quando nossos mais grandiosos pensamentos se misturam com todos os tipos de ondas emanadas das estrelas - ondas luminosas, elétricas, sonoras, ultravioletas, eletromagnéticas, raios gama, ondas de fundo, de rádio, dos raios que nos partam...

Aconteceu que eu estava saindo junto com um monte de gente ao final do expediente na então IQR - Indústrias Químicas Resende, uma joint venture entre as firmas suíças Sandoz e Ciba-Geigy.

É bom identificar a empresa, porque ela já malaew e tem muita gente nova em Resende, nascida aqui ou que chegou aqui depois dessa época que poderá deduzir que IQR signifique a abreviatura de Issu quié Resende?

Hoje, suas antigas instalações são ocupadas por outras empresas, como a Novartis, a Clariant, quiçá outras mais.

Pois bem! Trabalhei naquela firma por 8 anos e esse momento de saída do seu território parecia uma procissão, com mais figurantes do que aquela das atuais Sextas-feiras Santas. Afinal, éramos uns 1.800 funcionários.

Por sinal, era uma sexta-feira, final de semana prometendo, começando por uma visitinha dali a pouco no Cospe Grosso - um bar-lanchonete recém-nascido e já fincando sua bandeira de permanência definitiva nos Campos Elíseos - com os amigos pra tomar umas cervejinhas e umas cachacinhas. É meu! Nós, César, Isnaldo, Freddy, compadre Edson, que malaew recentemente, Willy, Alonso Fontanezzi, Sampaio, Luiz Perez Leon, Mário Siqueira, Elzo Glória, que também já malaew, Nelson Elefante, Paschoino, Paschoeto, Aldo Stagi, Bosco, Conrado, e outros cujos nomes não me vêem à mente no momento, como fundadores do estabelecimento que começou com uma única porta e meia-dúzia de gatos pingados como fregueses, tivemos esse privilégio de beber cachaça pura ali! No balcão e à vista de todo mundo! Uns, menos chegados na marvada na sua forma mais pura ou na forma que fosse (Coisa de cachaceiro! - Diziam.), como o Mário, o Willy, o Conrado, o Bosco e o Freddy, preferiam caipirinha com vodka. E os nojentos exigiam aquela da Becosa, com recipiente de cerâmica! O resto do pessoal era da pesada mesmo: cachaça pura, Fontanezzi, Capelinha e, algumas vezes, Babilônia, que também já malaew, soomew. Pra acompanhar, mocotó, dobradinha, com pão sempre fresquinho da Padaria N. Sra. de Fátima, que permanece no mesmo prédio em frente, costelinha frita, lingüiça e torresmo. Quando havia sardinha frita, era um verdadeiro Deus nos acuda! Essas frescuradas de hoje, como coxinhas, risolis, enroladinhos, empadinhas, eram – para os cachaceiros - coisas de extraterrestres, pelo menos no balcão e no nosso horário. Caso contrário, que fosse lá durante o dia, mesmo porque era apenas um balcão em L, com uns 3 x 1,5 metros. E só! Quando a nossa tropa entrava, não cabia mais ninguém! Pra tirar a água do joelho, nos fundos do bar, era necessária uma boa meia hora de previsão e planejamento para execução de tal tarefa. Se a coisa apertasse, a solução era sair correndo, atravessar a rua e botar o biló pra fora na Cantina Portuguesa. Não havia nenhuma mesinha nem balcãozinho em torno de coluna, mesmo porque nenhuma era visível, com todo o bar se resumindo num único salão! E, por incrível que apareça, eram necessários apenas um cozinheiro e 3 funcionários para atender aos fregueses. No começo, todos eram meio lerdos. Também, vindos desses grotões da Serra da Mantiqueira, matutos de primeira, chegando meio abobalhados na cidade grande, onde o trânsito de carroças chegava quase a competir com o de meia dúzia de ônibus urbanos e uns quinhentos automóveis, sendo estes inferiores em número em relação ao do das bicicletas.

Esses números poderão estar admiravelmente (Gostei desta minha colocação!) incorretos estatisticamente mas, pela falta de outra fonte que não a da minha memória, cito-os apenas para ilustrar um hipotético diálogo no palco de uma representação teatral futura. Cedo a idéia para alguém com um intelecto-papagoiabense maior do que o meu. E não precisa ser muito grande: basta pensar, coisa impensada para mim.

Quanto aos quatro moicanos que lambuzei com um pouco de tinta ali em cima e que tocavam o Cospe Grosso naquela época, continuam os mesmos: Jairo, fundador, cozinheiro (Ele não abandona o posto nem com reza brava!), seus irmãos Daniel e Paulinho, e o Russo, todos meus amigos, todos donos de uma simpatia que não respeita a muralha representada pelo balcão e que é o único obstáculo que nos separa nesse bar que para mim é um lugar sagrado. Sem gozação!

Na continuação desse programa, invariável por alguns anos, íamos, quase todos, quase sempre, tomar uma sauna no Bertell, a única que então explorava esse espaço comercial no Penedo, onde acabávamos a bebedeira enchendo o rabo de pinga com agrião da Dona Margarida (Margaret?), que voltou pra Finlândia, sua terra natal, e comendo o sanduba feito por ela, um monstrengo de quase um metro cúbico de pão integral recheado com chutney de manga. Era tão grande o mata-fome que alguém invariavelmente levava alguma sobra pra casa no acabar dos finalmentes. Ninguém nunca passou mal por causa dessa esquisitice - para nós - e na falta de outro tira-gosto, até que achávamos gostoso o ditocujado (o cujo que já foi dito). Também, amortecido com pinga e agrião!

Voltando ao tema do urinol: após passar pela portaria, segurava um jornal com as duas mãos e ia andando de cabeça baixa, como que compenetrado com o que lia, quando resolvi ler num tom de voz para que algumas pessoas próximas pudessem me ouvir. Óbvio que criei cucalmente o texto na hora, para meu próprio deslumbramento intelecto-papagoiabense.

A grande amiga Maria Amália - Que esteja bem misturada com as estrelas! -, que caminhava ao meu lado, quase teve um catiripapo.
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Levantou a cabeça, olhou para o céu, levou uma das mãos à boca e disse:
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- Vige Maria, que morte horrorosa! Se pelo menos o urinol estivesse cheio de bosta, ela ainda poderia deixar o seu assassino todo sujo e fedorento! Só queria ver a cara dele!

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- E então? Acertei na troca de título deste post?