segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Amadeus Leopold, O Mozart para a modernidade


Outro dia, navegando pela Internet, sem nenhum objetivo fixo no periscópio, me deparei com esse vídeo, de cujo violinista nunca havia ouvido falar nem nunca lido nada sobre ele nem nunca o ouvido tocar. E, ao vê-lo, achei-o meio maluco, com suas performances no palco me lembrando o Ney Matogrosso (alguns já disseram pra Lady Gaga abrir os olhos!), mas mostrando ser um artista maior na arte de ser violinista. E assim, sem mais nem menos, virei seu admirador! Procurando saber mais sobre o moço, encontrei este artigo publicado em 02 pp no blog da Renata Izaal, da Globo.com (link), cujo teor adianto pros meus amigos.

RIO — Não é todo dia que, no meio do trabalho, a repórter recebe um telefonema do entrevistado avisando que este havia mudado de nome.

— Não sou mais Hahn-Bin. Agora me chamo Amadeus Leopold!

A mudança — surpreendente e duvidosa — não é frescura. Ela faz parte de um trabalho de construção estética que o violinista coreano se impôs para, segundo suas próprias palavras, “ser o renascimento da música clássica”. A moda e muita maquiagem estão entre as ferramentas que ele usa nessa tal construção estética de si mesmo.

— As plateias no mundo todo têm me mostrado que eu incorporo uma era passada quando Paganini era como um ícone do pop. Cada evento nos meus 24 anos de vida tem me mostrado que o meu destino é trazer a música clássica de volta ao culto popular. Meu novo nome representa o meu casamento com esse destino — diz Amadeus em entrevista exclusiva ao ELA, a primeira para uma publicação brasileira.

O discurso de Amadeus Leopold soa pretensioso e romântico, marqueteiro até. Mas, num universo em que muitos formandos da Juilliard School ingressam no mercado de trabalho com um séquito de agentes, produtores e contrato de imagem com nomes poderosos da indústria da moda, é curioso que logo ele tenha optado pelo caminho solo. Ao menos quando se trata do visual.

— Eu sou o fotógrafo, o designer gráfico, o maquiador, o cabeleireiro e o figurinista — diz Amadeus, que recebeu propostas de estilistas top para vesti-lo, mas preferiu recusar.

— Se não for customizado, não serve para mim!

Muitos músicos abraçam esse lado do sistema, mas a minha mensagem é particular. Os estilistas teriam que trabalhar duro para entendê-la. Mas, basicamente, posso dizer que não encontrei um Givenchy para a minha Audrey.

Hubert de Givenchy e Audrey Hepburn são algumas das referências atemporais do violinista. Ele se inspira em artistas que construíram suas obras a partir da própria vulnerabilidade.

— Frank Sinatra, Billie Holiday, Judy Garland e Edith Piaf, por exemplo. Eles eram completamente vulneráveis e se doavam no palco como outros artistas não faziam.

E foi justamente da vulnerabilidade que Amadeus construiu sua força. Nasceu em Seul, na Coreia do Sul, filho de pais ausentes cujo sentimento de culpa os fez matricular o menino em uma série de cursos: teatro, balé e música. Sofreu bullying no colégio e já foi especulado que teria sofrido abuso sexual, mas ele não confirma. Prodígio do violino, aos oito anos já excursionava pelo país natal, e aos 12 deu os primeiros concertos nos Estados Unidos. Venceu o concurso Young Concert Artists International Auditions, que já revelou o violinista Pinchas Zukerman e o pianista Murray Perahia. Em Nova York, foi aluno do célebre violinista Itzhak Perlman por 10 anos. Caiu em depressão, em 2009, depois do début no Carnegie Hall:

— Tudo o que eu havia sonhado tinha se tornado realidade, mas eu não me sentia feliz. O violino se tornou uma obrigação. Então, lancei o projeto “renascimento da música clássica” que é um renascimento do meu próprio espírito.

Foi assim que ele decidiu trabalhar o apelo visual de suas performances, para que cada concerto fosse a expressão máxima de sua personalidade. Amadeus Leopold faz questão de não ser um violinista tradicional, daqueles que usa terno, gravata e cabelo cuidadosamente careta.

— Em cada cidade que toco, eu sempre tiro um tempo para andar e conhecer lojas, brechós e mercados de rua. Também faço a maquiagem, e isso pode levar até uma hora, dependendo do visual. Não gosto da moda em si, mas preciso dela para a minha música.

Mesmo não gostando, ele tem boa relação com o mundinho. Já tocou (as “Árias ciganas” de Pablo de Sarasate) na flagship store da Louis Vuitton, em Nova York. O closet tem peças assinadas: Yamamoto, Margiela, Lagerfeld e Rick Owens. O visual impactante, que lembra Lady Gaga ou Boy George, é usado para mostrar que Amadeus não é limitado por fronteiras de raça ou gênero.

— Cada concerto é um funeral do meu passado. Fui o único asiático numa escola americana e o único violinista no conservatório com uma visão diferente da música clássica. Essas limitações são a origem dos meus looks. Com a música e a moda posso ir além e ser quem realmente sou. Não estou interessado em ser normal e não tenho vida pessoal. Sou pessoal quando estou no palco, e é só esse momento que importa.

Diferentemente do que possa parecer, ele não é um daqueles músicos que, com o violino elétrico a postos, se apresentam com bandas de rock. Ao contrário, toca um Guarneri avaliado em US$ 3,5 milhões e é rigoroso na escolha do repertório.

— Não quero ser como David Garrett ou Vanessa Mae, que fazem um pouquinho de música clássica. É isso o quê eu toco o tempo todo, seja no interior conservador dos Estados Unidos, seja em Londres.

Suas performances têm recebido boa acolhida da crítica (“excelente”, disse o “New York Times” sobre sua interpretação do concerto para violino e orquestra, de Tchaikovsky). Entre seus fãs estão o estilista Marc Jacobs e o arquiteto Peter Marino, que patrocinou seu début no Carnegie Hall. Madonna, sempre ela, o convidou para participar do álbum “MDNA”. Ele está na faixa “Beautiful Killer”.

O novo nome é uma homenagem a Mozart (Amadeus era o nome do meio do compositor) e ao violinista húngaro Leopold Auer. Para o futuro, ele tem planos ambiciosos:

— Você não vai deixar de ouvir falar de mim até que eu tenha intoxicado o universo com música clássica.

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- I bibida prus músicus!

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